Em
23 de julho, Conceição da Feira completa 89 anos de emancipação política. Para
celebrar a data, o INFORME Cidadania
traz uma matéria com Djalma Farias Bastos, o mestre Dija
Aos 86 anos, mestre Dija é uma enciclopédia viva |
O
local é simples, no centro de Conceição da Feira. Um aparelho telefônico de
discar, um rádio, fotos históricas e antigos jornais da cidade, dentre outros
objetos sobre a mesa e alguns bancos de madeira convidam o visitante a um bom
bate-papo. Onde funcionava uma alfaiataria, hoje é um local de prosa, e ele
está lá todos os dias, pronto para atender àqueles que desejam desfrutar de uma
boa conversa. No auge dos 86 anos, seu Djalma Farias Bastos, o mestre Dija,
como é conhecido, é o que podemos chamar de uma figura simpática que tem na
ponta da língua a História de Conceição da Feira.
Aos
13 anos, aprendeu o ofício de alfaiate. “Naquele tempo, o menino estudava em um
turno e no outro ia aprender uma profissão”, recorda. Assim como aprendeu a profissão
que desempenhou por mais de 50 anos, também a ensinou a outros “discípulos”.
Daí o fato de ser chamado de mestre.
Com entusiasmo, mestre Dija relata fatos marcantes que ocorreram em Conceição da Feira, como a visita do escritor Jorge Amado. “Ele passou dias na Pensão Laurentina, começou a escrever o romance Jubiabá aqui e terminou no Rio de Janeiro”. E afirma que D. Pedro II esteve em Conceição da Feira quando veio inaugurar a ponte que liga Cachoeira a São Félix. Para ele o fato mais importante que já aconteceu em Conceição da Feira foi a Emancipação Política, em 1926, quando o município foi desmembrado de Cachoeira.
Memória privilegiada
Da
memória privilegiada deste conceiçoense carismático, os nomes de pessoas que
marcaram a história da cidade brotam como um verdadeiro manancial de informação.
“O primeiro colégio daqui foi dirigido pela professora Maria Lúcia Plácido dos
Santos”, que hoje dá nome à Biblioteca da cidade. E assim, outros tantos nomes
são citados, como Eupídio Cardoso (o primeiro intendente), Bebé Ferreira, Artur
Almeida e Tomé de Brasilina (integrantes da filarmônica que existiu na cidade),
Dr. Antílio Soares (dentista, carnavalesco), a parteira, dentista e
manipuladora de medicamentos Maria Teodora Leal (quem dá nome a maternidade
local), o professor Pedrito (fundador do primeiro colégio particular, onde o
próprio mestre Dija estudou e foi colega do acadêmico Pedro Borges), padre Mato
Grosso, Vivaldo Bitencourt (autor do hino da cidade), dentre outros.
Na base econômica do município, segundo Djalma Farias, prevalecia a cultura do fumo, depois “a avicultura deu um grande impulso a Conceição da Feira”. Quanto ao espírito acolhedor da cidade, o mestre diz: “nossa cidade acolhe muito a pessoa que chega aqui, tanto que muita gente vem aqui a passeio e acaba ficando”. Mestre Dija afirma ser bem tratado pela juventude, preocupa-se com a falta de emprego e deixa um recado importante para os jovens: “se afastem do vício”.
Esta enciclopédia viva, de fala suave, além de carregar na bagagem octogenária o ofício de alfaiate, canta, compõe canções e escreve poemas. É também escritor, com participação no livro Conceição da Feira: Terra da gente, e, como se não bastasse, foi vereador por quatro vezes numa época em que o edil não recebia salários.
Com todos esses atributos, Djalma Farias Bastos é um autêntico filho de Conceição da Feira. Digno do título de mestre, sua vida se confunde com a História desta Terra que ele tanto ama e onde sempre viveu.
Luciano Ferreira